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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ele e Ela

Ele era sozinho. Achava que não tinha valores em meio a sociedade; achava que ninguém o via; se achava transparente, até em frente ao espelho. Pensava que a vida não tinha graça, que viver sozinho era uma merda, e viver com alguém... Bom, ele não sabia o que era ter alguém.
Até que um dia, na faculdade, em uma aula de literatura onde só ele se interessava em participar, conheceu Ela, que por sinal também gostava das aulas de literatura.
Algum tempo depois os dois já estavam como Jane June e Jonnhy Cash. Ele achava que Ela tinha mostrado para ele o lado bom da vida. Agora Ele não se sentia só, sentia o cheiro das flores nos jardins, sorria para as pessoas na rua que também sorriam para ele, tomava banho de chuva sem medo de se molhar... Amava tudo aquilo, e amava Ela, pelo menos achava que amava. Todas as tardes ia à casa dela, e os dois ficavam horas e horas, conversando sobre tudo que existia no mundo. Ele só ia embora, quando a mãe dela chamava ela para entrar para o jantar. E no caminho para casa, Ele caminhava suspirando, rodeado de graça.
Em um sábado frio, iria ter o baile da faculdade, e Ele não pensou duas vezes em chamar Ela para ser seu par. E Ela aceitou.
Chegou o tão esperado baile. Ele se arrumou como nunca tivera se arrumado antes. Fez a barba, colocou seu melhor trage e passou seu melhor perfume, e partiu para buscar seu par. No caminho viu em um jardim lindas rosas, parou e apanhou umas 5, pegou um cordãozinho que tinha no bolso e amarrou-as, formando um buquê. Ele sabia que Ela gostava muito de flores.
Chegando a casa dela, deu uma ultima passada de mão em um fio de seu cabelo que estava eriçado, e deu duas batidas ansiosas em sua porta. Quem abriu a porta, foi Ela. Quando Ele a viu, esqueceu de respirar, esqueceu do mundo que girava, esqueceu do tempo, esqueceu de si mesmo; só conseguia enxergar Ela, que parecia um anjo. Um vestido até o joelho, rodado, branco com pérolas pequenas em algumas partes do vestido; estava com o rosto claro, uma maquiagem que só revelava mais ainda seus traços de boneca. O cabelo solto sobre os ombros, com um cheiro doce, embriagável. Ela ficou olhando para Ele, esperando que dissesse algo. Até que ela deu uma risadinha baixa, envergonhada, e Ele acordou, com mais vergonha do que Ela. Estendeu as flores, e sorriu. Ela pegou-as das mãos dele e sorrio gentilmente de volta para Ele; saiu e voltou logo em seguida com um casaquinho na mão.
Os dois foram caminhando até o baile, comentando como a noite estava linda. E logo chegaram. O lugar estava cheio, vários casais dançando juntos, parecia que ninguém se importava se estivesse caindo o mundo do lado de fora. Logo Ele e Ela, quiseram se juntar ao pessoal.
E os dois dançaram, dançaram até não aguentarem mais, trocaram olhares, abraços, sorrisos em meio a dois pra lá e dois pra cá da valsa final.
Quando o baile acabou, Ele pegou o casaquinho dela e colocou em volta de seu ombro, para mantê-la aquecida. No caminho de volta, foram elogiando a lua e os passinhos de dança, e riam da doce recordação. Chegando na casa de Ela, Ele segurou sua mão, e deu um breve beijo na mesma, desejando-lhe uma boa noite.
No caminho de volta para casa, Ele voltava com um  sorriso estampado no rosto, e tinha certeza absoluta do quanto amava Ela. E bem ali, na rua fria, olhando para a lua, Ele decidiu se casar com Ela. Mas pensou em fazer uma surpresa a Ela. Fingiria que não estava mais a sua mercê, iria a ignorar por alguns dias, para que a surpresa fosse formidável!

Os dias se passaram, na verdade para Ele se arrastaram. Ele acordou cedo, e de novo se arrumou, já havia comprado as alianças para Ela, as mais lindas que haviam na loja. Colocou as alianças no bolso  e caminhou até sua casa, mais ansioso do que nunca. Chegando, parou em frente a porta, passou a mão pelos fios eriçados de seu cabelo, e deu duas batidas ansiosas na porta. E nada. Deu mais duas, um pouco mais forte. E nada. Esperou um pouco até que ouviu alguns passos em direção a porta e seu coração disparou. A porta se abriu, e Ele esperava que Ela fosse abrir, mas teve uma surpresa. Um homem, alto, bonito, apresentável quem abriu a porta. Ele fez uima cara de desentendido e pensou: " Ela não tinha me contado que tinha irmão". Alguns segundos depois, Ela apareceu atrás do homem e olhou surpresa para ele. Convidou para entrar e apresentou os dois dizendo: " Esse é Ele. Ele, esse é meu marido".
As palavra de Ela não paravam de se repetir na cabeça dele, como um disco riscado, e novamente Ele esqueceu de respirar, suas pernas ficaram bambas, seus olhos  entristeceram, e ele sorriu, fingido, e cumprimentou o outro homem que estava na sua frente beijando os cabelos doces de sua amada, e ele não podia fazer nada.
Depois de algumas horas com os dois, Ele foi embora, fingindo estar feliz com a surpresa que recebera. Despediu-se dos dois, e partiu.
No caminho de volta, a única coisa que se via, era as lágrima escorrendo pelo rosto dele, as lágrimas frias e amargas. Ele estava novamente sozinho. Ele se perguntava por que? Por que Ela tinha feito aquilo com ele? Por que não o esperou? Ele a amava tanto. Por que?
Ele continuava indo a casa de Ela, visitando o casal. Um dia Ele comentou com o homem que gostaria de uma de suas espingardas emprestada, pois ele ia fazer uma viagem, para caçar. O homem disse a Ela que pegasse uma de suas armas e entregasse a Ele. Ela tinha um perfume doce no corpo, onde qualquer coisa que tocasse, empreguinava-se com seu cheiro. Quando Ela entregou a arma, Ele agradeceu, e voltou para casa, sozinho.
Chegando em casa, Ele pegou a arma e sentiu o aroma do perfuma de Ela, e cheirou o couro da arma, em prantos, com a alma vazia de tanta solidão, e sabia que não conseguiria mais viver com aquilo guardado em seu peito.

Alguns minutos depois, os vizinhos de Ele ouviram disparos, e foram atrás do que podia ser, e perceberam que os disparos vinham da casa de Ele. Correram até lá, entraram e encontraram o corpo de Ele, jogado no chão, frio e sozinho; com um par de alianças jogadas no chão e uma carta perto de seu corpo. Uma pessoa pegou a carta. E nela, Ele havia escrito que não poderia viver sem Ela, e que ela havia o feito passar pela maior frustração de sua vida, e que sem Ela, Ele não poderia ser mais nada, além de uma caixa vazia, com apenas ossos chacoalhando por ai.